Infecção do Trato Urinário em Cães
Atualizado: 5 de out. de 2021
M.V Nayara Viana de Andrade
As infecções do trato urinário (ITU) são frequentes na rotina clínica de pequenos animais, sendo mais comum em cães do que em gatos. Os sintomas comumente vistos são estrangúria, polaciúria, micções inapropriadas, disúria e hematúria. Em alguns casos o paciente pode ser assintomático.
Na maioria dos casos não se observa alterações evidentes no exame clínico, entretanto deve-se sempre realizá-lo de forma completa a fim de identificar alterações que podem predispor a ITU. Em fêmeas, é importante a avaliação da vulva no intuito de excluir a presença de excesso de pregas vulvares e/ou piodermite perivulvar. Em machos, é importante investigar a presença de prostatite bacteriana, pois é um fator predisponente para a ocorrência de cistites.
De acordo com Nelson e Couto, 2015, as ITU’s podem ser classificadas em simples ou não complicadas, complicadas, recorrentes, refratárias, recidivantes, devido a reinfecção e bacteriúria subclínica. Entretanto, em 2019 foi publicado um guideline sobre as Infecções do Trato Urinário e de acordo com esse as ITU’s classificam-se em cistite bacteriana esporádica, cistite bacteriana recorrente e bacteriúria subclínica.
A cistite bacteriana esporádica se refere a infecções esporádicas da bexiga e geralmente o paciente apresenta-se saudável sem alterações anatômicas ou funcionais do trato urinário. No entanto, animais com essas alterações ou comorbidades também podem apresentar cistite bacteriana esporádica e não necessariamente vão apresentar risco maior de complicações, recorrência ou dificuldade de tratamento, como acreditava-se anteriormente.
A cistite bacteriana recorrente diz respeito a infecção em cães que apresentaram cistite três ou mais vezes nos últimos 12 meses. E cães que apresentam bacteriúria baseados em cultura bacteriana, na ausência de sinais clínicos, são classificados com bacteriúria subclínica.
O diagnóstico é baseado na presença de sinais clínicos e no resultado positivo de cultura bacteriana aeróbica da urina. As amostras para cultura devem ser coletadas por cistocentese, a menos que haja alguma contraindicação, e se não puderem ser processadas imediatamente devem ser refrigeradas por no máximo 24h. Além disso, deve-se realizar um exame completo de urina, incluindo-se citologia urinária. Para esse exame, o processamento deve ser de no máximo seis horas.
Estudos de imagem como radiografia e ultrassonografia são importantes para avaliação do paciente com infecção recorrente para descartar alterações anatômicas ou estruturais. Nesses pacientes também se recomenda exame clínico minucioso, hemograma e perfil bioquímico, na busca de doenças concomitantes ou fatores predisponentes.
Os sinais clínicos da ITU são resultado de inflamação, por isso, em associação à antibioticoterapia é recomendado o uso de AINES (anti-inflamatório não esteroidal).
Para se traçar um plano terapêutico é fundamental a escolha de um antimicrobiano adequado e para isso é necessário a realização de um antibiograma baseado na cultura bacteriana aeróbica da urina. Entretanto, no caso da cistite bacteriana esporádica pode-se realizar antibioticoterapia empírica, particularmente em pacientes com antimicrobiano prévio e exposição limitada a patógenos, e em situações onde os possíveis patógenos e os padrões de susceptibilidade são previsíveis. É importante lembrar que este procedimento pode desenvolver resistência bacteriana. Já no caso da cistite bacteriana recorrente é obrigatório a realização de cultura e antibiograma, sendo o uso empírico de antimicrobiano justificado até o resultado da cultura.
As escolhas empíricas ideais variam de acordo com o patógeno e padrões de resistência de cada região, mas no geral usa-se amoxicilina + ácido clavulânico ou sulfadiazina + trimetropim. As fluoroquinolonas, nitrofurantoínas e cefalosporinas devem ser reservadas para os casos onde os antimicrobianos de 1ª escolha não sejam susceptíveis baseados em antibiograma. A duração recomendada de tratamento varia de acordo com a classificação e gravidade da infecção, nas cistites esporádicas a recomendação é de 3 a 5 dias, já em infecções recorrentes o tratamento pode ter duração de até 14 dias. Em geral, não se trata infecções do sistema urinário com menos de 14 dias.
Deve-se reavaliar o paciente dentro de 48 horas após o início da terapia medicamentosa, caso não haja melhora é necessária uma investigação adicional na busca de comorbidades e fatores predisponentes, e reavaliação da terapêutica. Caso tenha-se escolhido empiricamente o antimicrobiano se faz necessário cultura bacteriana com antibiograma e troca do antibiótico para um sensível ao patógeno.
Em pacientes com bacteriúria subclínica o tratamento não é indicado. Entretanto, deve-se ficar atento no caso de paciente que não conseguem expressar sinais clínicos, como por exemplo animais com lesão medular, nesses casos é necessário um julgamento clínico e se houver necessidade pode-se fazer um tratamento de curta duração.
A realização de cultura após o tratamento para avaliar a sua eficácia é questionável e pode ser indicado em casos onde o tratamento prolongado foi efetuado. A recomendação é que se faça a cultura após 5-7 dias do término do antibiótico.
Referências Bibliográficas:
1) DIBARTOLA P. S, WESTROPP L. J. Doenças do trato Urinário. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. 5ed. Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier. p.629 a 712. 2015
2) WESSE S. J, BLONDEAU J., BOOTHE D., et al. International Society for Companion Animal Infectious Diseases (ISCAID) guidelines for the diagnosis and management of bacterial urinary tract infections in dogs and cats. The Veterinary Journal 247 p. 8-25. 2019