Principais intoxicações causadas por plantas em pequenos animais
Atualizado: 5 de out. de 2021
(Revisão de literatura)
Michele Caroline Ribeiro do Carmo Rocha – Graduanda de Medicina veterinária (UFMG)
Intoxicação é uma manifestação clínica ou laboratorial, causada de forma acidental ou criminosa, capaz de provocar um estado patológico. As intoxicações na Medicina Veterinária ocorrem na maioria das vezes de forma acidental, por imprudência ou desconhecimento de tutores ao oferecerem aos seus animais alimentos indevidos e no descuido do uso de substâncias destinadas a eliminação de pragas, ou intencionalmente, de forma criminosa como em casos de envenenamentos. Podem ocorrer também intoxicações acidentais pela ingestão de alimentos, produtos de limpeza, ou agentes tóxicos presentes no ambiente como plantas, fungos, por contato com animais venenosos e ingestão de substâncias de abuso.
Plantas tóxicas são aquelas que causam intoxicações em condições naturais. Elas possuem princípios ativos que dependendo da dose, podem ser tóxicos para o organismo (MARTINS, 2013). As plantas podem causar reações diversas, desde alergias na pele e mucosas, até distúrbios cardiovasculares, respiratórios, metabólicos, gastrointestinais, neurológicos e em alguns casos o óbito (VASCONCELOS et al., 2009).
Alguns fatores como a idade do animal, estresse ou tédio e até mudanças no ambiente, podem favorecer a intoxicação por plantas ornamentais. A maioria dos casos de intoxicação resulta do instinto ou curiosidade dos animais em explorar aquilo que encontram associada à negligência dos que propiciam o acesso aos mesmos (HACKETT, 2000). Devido à curiosidade ou pelo desenvolvimento da nova dentição, os animais jovens tendem a mordiscar bulbos, folhas ou caules, por mais que esses não sejam palatáveis, e os acaba ingerindo acidentalmente. O tédio, as mudanças na rotina ou no ambiente podem levar cães e gatos a procurarem as plantas, em especial as ornamentais, como forma de distração.
É importante salientar que o diagnóstico deve ser embasado no histórico, pois os sinais clínicos, em sua maioria, não são patognomônicos e podem ser confundidos com alterações produzidas por algumas doenças (GÓRNIAK, 2008). Os animais idosos, devido a reações metabólicas prejudicadas e os animais jovens por possuírem um metabolismo imaturo e uma eliminação deficiente são potencialmente mais sensíveis a intoxicações (VOLMER; MEERDINK, 2002).
É extremamente importante, tanto para veterinários quanto para tutores de animais, estarem cientes da existência de plantas potencialmente perigosas, bem como seus derivados. Muitas vezes, vidas são salvas pela ação imediata dos tutores e veterinários quando um animal de estimação ingere uma planta toxica (BOTHA; PENRITH, 2009).
A seguir, são apresentadas as principais plantas causadoras de intoxicação divididas em grupos.
Plantas que causam glossite e faringite






As plantas que causam glossite e faringite produzem substâncias que promovem a degranulação de mastócitos, conduzida por cristais de oxalato de cálcio (ráfides: cristais em forma de agulha) e liberação de histamina. Os efeitos causados são dor e irritação minutos após morder a planta, salivação profusa, edema intenso da mucosa da faringe e das cordas vocais, com alteração na vocalização e dispneia grave nos casos graves (GÓRNIAK, 2014).
Para o tratamento não é indicado a indução do vômito, devido a irritabilidade causada pelos cristais de cálcio. O tratamento consiste basicamente no uso de anti-histamínicos H¹ e deve ser sintomático, consistindo inicialmente no alívio da irritação, lavando-se pele, olhos ou boca com líquidos frios e o uso de demulcentes, como o hidróxido de alumínio. O uso de protetores de mucosa, como o sucralfato, também é indicado (GÓRNIAK, 2014). O tratamento de suporte com fluidoterapia, anti-inflamatórios, analgésicos e antieméticos pode ser necessário (ANDRADE, 2011).
2.2 Plantas que afetam o Trato Gastrointestinal




Plantas desse grupo podem ser subdivididas em dois grupos: as que causam sintomatologia mais branda (Alamanda cathártica, Dracaena spp., Euphorbia spp., e Narcissus spp.), quando os sinais não põem risco a vida do animal, e as que causam sintomatologia mais grave, isto é, podem levar o animal a óbito quando ele não for rapidamente atendido. (GÓRNIAK, 2014).
Para o tratamento da intoxicação por plantas que causam alterações no trato gasto intestinal, além de sintomático, deve ser realizada a lavagem gástrica, fazendo o uso de carvão ativado, sendo a utilização de catárticos salinos e cálcio injetável considerado. Se já houver manifestação de gastroenterite, deve-se utilizar protetores gástricos, como o sucralfato. Além disso é fundamental que se corrija o distúrbio eletrolítico, utilizando soluções balanceadas de eletrólitos (GÓRNIAK, 2014). Se necessário, deve ser feito o uso de antibióticos (ANDRADE, 2011). Deve-se realizar a monitoração do sistema cardíaco com eletrocardiograma e aferição de pressão arterial.
2.3 Plantas que causam alterações no SNC


Os principais sinais são náusea e salivação, acompanhados de vômitos e diarreia. O tratamento deve ser sintomático e muitas vezes vai depender da fase da intoxicação. Pode ser realizado lavagem gástrica, inibidores de colinesterase como a fisostigmina e neostigmina. Em pacientes com hipertermia pode-se realizar banhos e compressas frias. Em casos de depressão do SNC deve ser realizada a intubação endotraqueal e o uso de estimulante respiratório de ação central (doxapram).
2.4 Plantas cardiotóxicas


As plantas que contêm o glicosídeo cardioativo causam intoxicação grave mesmo quando ingeridas em pequenas quantidades (GÓRNIAK, 2014).
O tratamento para intoxicações por plantas cardiotóxicas deve ser feito além de terapia sintomática, lavagem gástrica, carvão ativado, catárticos e monitoramento por ECG. Além disso, deve se manter o equilíbrio eletrolítico na presença de vômito e diarreia (GÓRNIAK, 2014).
2.5 Plantas Nefrotóxicas

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É de suma importância o conhecimento da existência de plantas que podem ser nocivas aos animais, a ponto de causar intoxicações e em casos mais graves o óbito de animais domésticos. Reconhece-las e saber quais são os efeitos dessas plantas tóxicas, além de conseguir associar o histórico e a sintomatologia clínica, pode ajudar na melhor condução diagnóstica e terapêutica, a fim de preservar a vida do animal, seja de maneira profilática ou emergencial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BOTHA, C. J.; PENRITH, M. L. Potential plant poisonings in dogs and cats in southern Africa. Journal of The South African Veterinary Association, v. 80, n. 2, p. 63-74, 2009
DALLEGRAVE, E.; SEBBEN, V. C. Toxicologia clínica: aspectos teórico-práticos. In: GONZÁLEZ, F. H. D.; SILVA, S. C. Patologia clínica veterinária: texto introdutório. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008. p. 145-210.
GÓRNIAK, S. L. Plantas tóxicas ornamentais. In: SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; PALERMO-NETO, J. Toxicologia aplicada a medicina veterinária. São Paulo: Manole, 2008. p. 459-474.
HACKETT, T. Emergency approach to intoxications. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v.15, n.2, p. 82-87, 2000.
MARTINS, D.B.; MARTINUZZI, P.A.; SAMPAIO, A.B; VIANA, A.N. Plantas tóxicas: uma visão dos proprietários de pequenos animais. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR. Umuarama, v.16. n.1, p.11-17, jan./jun. 2013.
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TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER J.; PEIXOTO P. V. MARTINS et al. Plantas tóxicas: uma visão... Plantas toxicas do Brasil. Helianthus: Rio de Janeiro, 2000. 310 p.
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VOLMER, A. P.; MEERDINK, L. G. Diagnostic toxicology for the small animal practioner. The Veterinary Clinics Small Animal Practice, v. 32, p. 357-365, 2002.